Deputado que se diz defensor da liberdade de expressão no Brasil defende que críticos do governo Trump sejam monitorados e até impedidos de entrar nos EUA
Na contramão do discurso que sustenta diariamente nas redes sociais de defensor intransigente da liberdade de expressão, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) protagonizou mais uma cena polêmica nesta quarta-feira (28), ao defender, durante uma comissão na Câmara, a suspensão de vistos para estudantes que façam críticas aos Estados Unidos e, especialmente, ao ex-presidente Donald Trump.

“O cara aqui, na sua rede social, um comunistinha de meia tigela, fica falando mal dos Estados Unidos, do Trump... Daqui a pouco está querendo estudar nos Estados Unidos. Não, sua rede social vai ser avaliada. Talvez você não tenha visto para poder estudar nos Estados Unidos”, afirmou Nikolas, sem esconder que, para ele, liberdade de expressão só vale até a página dois ou, neste caso, só vale quando não se trata de seus aliados políticos.
A fala surge em defesa de uma decisão polêmica tomada pelo governo Trump na época em que adotou critérios mais rígidos na emissão de vistos, incluindo a análise de postagens nas redes sociais de solicitantes.
O peso e duas medidas
O que chama a atenção é a flagrante contradição do parlamentar mineiro. O mesmo Nikolas que, diariamente, utiliza suas redes para disparar críticas muitas vezes recheadas de desinformação contra o governo Lula, contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e até contra instituições democráticas brasileiras, defende, sem qualquer constrangimento, que pessoas sejam impedidas de estudar nos Estados Unidos por expressarem suas opiniões.
Quando o tema é o Brasil, qualquer tentativa de responsabilização por falas ofensivas ou pela disseminação de fake news é imediatamente classificada por Nikolas como "censura", "ditadura" ou "perseguição política". Mas quando se trata dos Estados Unidos, especialmente sob a liderança de Donald Trump, Nikolas não vê problema algum em um governo avaliar postagens pessoais e até negar um visto a quem criticou suas políticas.
Hipocrisia travestida de patriotismo?
O episódio escancara um tipo de liberdade de expressão seletiva, muito comum em determinados círculos políticos. Falar mal do Brasil, de seus governantes, de seus ministros e de suas instituições, tudo bem. É "direito". Mas questionar os Estados Unidos, suas políticas e seus líderes — ainda que sob a ótica da liberdade de expressão vira, de repente, uma atitude inadmissível, que merece punição.
Essa lógica não apenas revela hipocrisia, mas também reforça um discurso de submissão ideológica que trata qualquer crítica ao conservadorismo norte-americano como crime de lesa-pátria.
Falar pode. Desde que eu concorde
O que Nikolas parece defender, na prática, não é a liberdade de expressão, mas sim o direito de falar apenas o que ele concorda. Quando a crítica é direcionada a seus adversários, ela se torna um ato de coragem, de resistência, de democracia. Mas quando mira seus aliados, especialmente internacionais, ela se torna um crime passível até de restrições de locomoção.
Reflexão necessária
Esse episódio deveria servir de reflexão, especialmente para aqueles que confundem liberdade de expressão com liberdade irrestrita para atacar, mas não para serem questionados. Afinal, não existe democracia de mão única.


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