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Com novo nome e velhos desafios, Motiva assume BR-163 até 2054
Com novo nome e velhos desafios, Motiva assume BR-163 até 2054

Após uma década de promessas não cumpridas, concessionária garante novo contrato sem concorrência e mantém pedágio até 2054

A rodovia BR-163, que corta Mato Grosso do Sul de ponta a ponta, permanecerá sob administração da concessionária que atuou na última década, agora rebatizada de Motiva, antiga CCR MSVia. A empresa venceu, sem concorrentes, o leilão realizado na última quinta-feira (22), na sede da B3, em São Paulo, e garantiu a concessão até 2054.

O leilão, promovido pelo Ministério dos Transportes e tratado como o primeiro de “otimização rodoviária” do país, durou menos de dez minutos. A ausência de propostas concorrentes chamou a atenção e reforçou críticas sobre a condução do processo. Na prática, a disputa foi uma exigência do Tribunal de Contas da União (TCU), que buscava evitar que o acordo soasse como mera prorrogação do contrato anterior.

A proposta vencedora prevê tarifa de R$ 0,07521 por quilômetro, equivalente a R$ 7,52 a cada 100 km, para trechos de pista simples. O novo contrato será formalizado em agosto.

Um histórico de promessas não cumpridas
A CCR assumiu a BR-163 em 2014 com a promessa de duplicar os 845 quilômetros da rodovia em cinco anos. Passados dez anos, apenas 17,7% do previsto foi entregue — pouco mais de 150 quilômetros. Durante esse período, a empresa também resistiu a decisões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que determinava uma redução de 53% no valor dos pedágios. Uma liminar na Justiça manteve a cobrança integral.

Apesar das queixas de dificuldades financeiras e falta de repasses federais, a concessionária fechou o primeiro trimestre de 2025 com lucro de R$ 21 milhões, contrariando o discurso de inviabilidade econômica.

De acordo com documentos financeiros da própria empresa, entre 2014 e 2024, a concessionária arrecadou R$ 2,345 bilhões em pedágios, investiu R$ 1,868 bilhão e gastou R$ 4,513 bilhões em custos operacionais. Apenas R$ 235 milhões foram repassados aos municípios cortados pela rodovia.

Menos obra, mais custo
O novo contrato frustra quem esperava a tão sonhada duplicação total da BR-163. A previsão agora é de apenas 203 quilômetros de duplicação, menos de um terço do compromisso inicial. Curiosamente, o custo global da concessão subiu 35%, mesmo com a redução de 75% na extensão das obras de duplicação.

Entre as melhorias prometidas estão:

147,77 km de faixas adicionais

28,82 km de contornos

22,99 km de vias marginais

6 correções de traçado

22 passarelas

144 pontos de ônibus

56 passagens de fauna

3 Pontos de Parada e Descanso (PPDs) para caminhoneiros

O contrato também prevê a geração de 134 mil empregos diretos e indiretos ao longo dos 29 anos.

Reações e críticas
O resultado gerou protestos entre parlamentares de Mato Grosso do Sul, que pressionaram, ainda que tardiamente, pela duplicação integral da rodovia. Na Assembleia Legislativa, uma comissão formada para acompanhar o processo apontou que, no curto prazo, serão apenas 65 km de obras, concentradas na conclusão de trechos já iniciados nas cidades de Mundo Novo, Itaquiraí, Nova Alvorada do Sul, São Gabriel do Oeste e Rio Verde de Mato Grosso.

Em discurso após a vitória solitária no leilão, Eduardo Siqueira Moraes Camargo, vice-presidente da Motiva, reconheceu o fracasso do contrato anterior. "Tava perdendo a concessionária, que colocou mais de um bilhão de reais e nunca tirou um centavo. Tava perdendo o usuário, que não via os investimentos acontecerem, e tava perdendo o governo, porque o programa estava perdendo credibilidade", afirmou.

Uma rodovia essencial, ainda em espera
A BR-163 é uma das principais artérias logísticas do Centro-Oeste, conectando 21 municípios sul-mato-grossenses, da divisa com o Paraná, em Mundo Novo, até Sonora, na divisa com o Mato Grosso. Serve diretamente mais de 1,3 milhão de habitantes e é fundamental para o escoamento da produção agrícola e industrial da região.

A expectativa, agora, recai sobre a capacidade da Motiva em cumprir, desta vez, os compromissos firmados e aliviar o histórico de frustração acumulado pelos usuários da rodovia nos últimos 11 anos.

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