Cruz Vermelha supervisiona libertação de reféns e 1.966 palestinos; especialistas classificam como ilegal o exílio imposto a 154 dos prisioneiros libertos
O Hamas libertou nesta segunda-feira (13) todos os 20 reféns israelenses vivos que mantinha na Faixa de Gaza, enquanto Israel iniciou a libertação de quase 2.000 prisioneiros palestinos, entre condenados e detidos durante a guerra.

O intercâmbio, mediado pelos Estados Unidos e supervisionado pela Cruz Vermelha Internacional, encerra formalmente dois anos de conflito e marca a primeira etapa do acordo de cessar-fogo assinado no Egito sob o plano de 20 pontos proposto pelo presidente norte-americano Donald Trump.
Os reféns israelenses foram entregues em duas etapas — sete pela manhã e treze à tarde — e transferidos à base militar de Re’im, onde passaram por verificação de identidade e exames médicos antes de serem levados a hospitais.
Em vídeos divulgados por emissoras israelenses, eles aparecem caminhando sem auxílio e em boas condições de saúde.
Parte do acordo, o exército israelense confirmou que os corpos dos reféns mortos ainda não foram repatriados, embora metade deva ser devolvida até o fim da semana. A lista inclui os restos mortais de um soldado morto em 2014.
Em contrapartida, Israel começou a soltar 1.966 palestinos, dos quais 1.716 são moradores de Gaza e 250 cumpriam prisão perpétua. Parte do grupo foi libertada na penitenciária de Ofer, na Cisjordânia, e outra no Complexo Médico Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza.
Ônibus transportando os palestinos libertos chegaram a Ramallah sob aplausos e cânticos de “Allahu akbar” — “Deus é o maior”. Imagens da Reuters mostram familiares abraçando os libertos em meio à presença de militares e policiais.
A multidão comemorou o retorno de prisioneiros detidos desde os primeiros dias da ofensiva israelense, em outubro de 2023.
As cenas de reencontro, no entanto, foram acompanhadas pela notícia de que 154 dos palestinos libertos seriam deportados, segundo o Escritório de Mídia dos Prisioneiros do Hamas.
Especialistas em direito internacional classificaram como ilegal o exílio forçado de palestinos libertos.
“É desumano, porque são cidadãos da Palestina e estão sendo enviados para países onde enfrentarão restrições severas”, afirmou Tamer Qarmout, professor do Instituto de Pós-Graduação de Doha à Al Jazeera.
O exílio, segundo ele, “significa o fim de suas vidas políticas”.
Em comunicado, o grupo afirmou que “a entrega dos reféns foi feita em cumprimento ao plano do presidente Donald Trump” e cobrou dos mediadores que garantam “a execução integral das obrigações israelenses”.
O Hamas também divulgou vídeos e ligações telefônicas entre reféns e familiares antes da libertação, em gesto inédito. A Cruz Vermelha confirmou ter supervisionado o intercâmbio.
A operação coincidiu com a chegada de Trump a Israel. O presidente norte-americano foi recebido com honras no aeroporto Ben Gurion pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e pelo presidente Isaac Herzog.
No Parlamento, foi ovacionado ao discursar sobre o cessar-fogo e reiterar que “a guerra acabou”.
Trump afirmou acreditar que o acordo “vai se manter” e viajará ao Egito para presidir a cúpula internacional de paz em Sharm el-Sheikh, ao lado de líderes estrangeiros. Netanyahu não participará do encontro.
O cessar-fogo prevê a retirada gradual das tropas israelenses de Gaza, a ampliação da entrada de ajuda humanitária e a criação de uma força internacional de monitoramento.
O plano de Trump, apresentado como uma solução definitiva, ainda não especifica os prazos para o desarmamento do Hamas nem para o fim das deportações. Para o movimento palestino, a libertação simultânea de prisioneiros é prova de que a resistência forçou Israel a negociar.
Em Ramallah e Gaza, famílias celebraram o retorno de parentes, enquanto outras enfrentam o peso da separação forçada. “A notícia foi um choque, mas o que importa é que ele foi libertado, aqui ou no exterior”, disse Raed Imran, irmão de um dos deportados.
A libertação simultânea de reféns e prisioneiros marca o encerramento de um dos conflitos mais letais da história recente e simboliza, ao mesmo tempo, a desigualdade estrutural que o produziu.
Enquanto os israelenses voltam para casa sob aplausos e câmeras, milhares de palestinos saem das prisões rumo ao exílio, sem saber se voltarão a ver suas famílias ou sua terra.
Fonte: Vermelho


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